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Repartição pessoal dos rendimentos: Leque salarial e Rendimento per capita

  • (...) os presidentes executivos (CEO) das empresas cotadas no índice PSI (antigo PSI20) viram as suas remunerações aumentar 47%.o vencimento médio bruto anual dos trabalhadores recuou 0,7% no mesmo período. Contas feitas, entre 2012 e 2022 o fosso salarial (pay gap) entre as remunerações dos CEO das empresas cotadas e o vencimento médio bruto anual dos funcionários que empregam acentuou-se. Se em 2012 os líderes destas empresas ganhavam, em média, 20 vezes mais do que os seus trabalhadores, no ano passado auferiram 36 vezes mais. E há mesmo casos em que o salário de 186 trabalhadores não chega para pagar o do seu CEO.
    EXPRESSO (Assinantes), 14 de Abril de 2023.
  • Mesmo quando seja maravilhosamente eficiente, a Mão Invisível pode, originar uma repartição bastante desigual do rendimento. Sob o laissez-faire, as pessoas acabam por ficar ricas ou pobres, dependendo do sítio onde nasceram, da riqueza que herdaram, dos seus talentos e esforços, da sorte na pesquisa de petróleo, do seu género ou da cor da sua pele. Para algumas pessoas, a repartição do rendimento resultante da concorrência não regulada parece tão arbitrária como e repartição darwiniana de alimentos e de pilhagem na selva.
    Samuelson
O rendimento pessoal engloba o total das receitas, ou dinheiro, recebido por um indivíduo, ou família, durante um dado período de tempo (normalmente um ano). As principais componentes do rendimento são receitas provenientes do trabalho (salários), da propriedade (rendas, juros e dividendos), as transferências do Estado (subsídios) e as transferências do exterior (como as remessas de emigrantes). Se ao rendimento pessoal tirarmos os impostos e contribuições pagos pelas famílias, ficamos com o rendimento pessoal disponível, que é o que as famílias têm para gastar. É este conceito de rendimento que é importante para as decisões económicas dos consumidores, determinando o montante que podem consumir ou poupar.

Para simplificar, suponha apenas a seguinte distribuição dos rendimentos primários em 3 países, com 4 famílias cada. Onde se encontra o rendimento melhor distribuído?
Uma aproximação à resposta poderá ser dada pela repartição funcional do rendimento, isto é, calculando a percentagem do rendimento que cabe ao trabalho em cada país.
Concluir-se-ia que em princípio o rendimento se encontra melhor distribuído no país 3, onde 70,9% do rendimento nacional é atribuído aos salários, - o rendimento mais comum - um valor muito acima de 34,9% e 55,8%, nos países 1 e 2.

O indicador mais comum da desigualdade salarial é o leque salarial que se define como:
Para comparar a repartição dos salários nos 3 países iremos utilizar o salário médio de cada família, que se calcula dividindo o montante de salários pelo número de indivíduos. Então, verificando qual é o salário máximo e o salário mínimo em cada país, podemos calcular o respectivo leque salarial.
A distribuição mais assimétrica dos salários verifica-se no país 2, onde um salário máximo corresponde a 2,3 salários mínimos. Nos países 1 e 3 um salário máximo corresponde apenas a 1,6 salários mínimos.

Fazendo a mesma operação para o conjunto dos rendimentos (s+r+j+l) é fácil concluir que a maior diferença de rendimentos se verifica no país 1, correspondendo o rendimento médio da Família D a 4,5 vezes o da Família A. No país 2 o rendimento médio máximo corresponde a 2,96 mínimos, e no país 3 corresponde a apenas 2,69. Portanto os rendimentos estão melhor distribuídos no país 3.

Que motivos poderiam justificar as desigualdades na repartição pessoal dos rendimentos? Já respondemos a esta pergunta no post A actividade produtiva e a formação dos rendimentos.

Um indicador frequentemente utilizado para comparar o rendimento em diferentes países é o Rendimento per capita:
No caso dos 3 países acima o Rendimento per capita é igual: 430/20 = 21,5. Por ser uma média, a sua maior limitação resulta de ignorar a distribuição do rendimento pela população. Supondo dois países A e B com um PIB per capita idêntico, se em A 80% da riqueza produzida se encontrar concentrada em 20% (ou menos) da população (como acontece nalguns países do Terceiro mundo), obviamente que o nível de vida médio em A será seguramente inferior ao de B.

Outro problema resulta da Economia Não-Registada, que em Portugal já ultrapassa os 25% desde 2011. O que neste post se diz para o PIB, transpõe-se facilmente para o Rendimento.

Finalmente, o PIB per capita enquanto medida de nível de vida também ignora as diferenças de preços entre os países que estão a ser comparados. Se uma família portuguesa tiver um rendimento igual ao de uma família que viva em Espanha, vai ter um nível de vida inferior, porque os preços praticados em Portugal geralmente são superiores aos praticados no país vizinho.

Também se pode referir que o indicador ignora a riqueza em termos sociais, culturais, ambientais, políticos,... mas isso seria pedir demais a um indicador económico.

O EuroStat calcula o Rendimento pessoal disponível per capita real ajustado (às diferenças de preços).


1. Aponte algumas razões que podem conduzir a uma repartição do rendimento injusta, mesmo num mercado eficiente.

2. Distinga o rendimento pessoal do rendimento pessoal disponível.

3. Considerando uma nova distribuição do rendimento, calcula nos 3 países:


a) A percentagem do Rendimento Nacional que cabe ao trabalho (Repartição Funcional do Rendimento);
b) Quantas vezes o salário máximo é maior que o salário mínimo (Leque salarial);
c) Em que país o rendimento se encontra melhor distribuído? (considerando todos os rendimentos, ie., a Repartição Pessoal do Rendimento);
d) O Rendimento per capita.

e) Comente os resultados obtidos nas alíneas acima.

4. Refira três limitações do Rendimento per capita.

5. O EuroStat, calculando o Rendimento pessoal disponível per capita real ajustado, já pretende responder a uma das limitações do Rendimento per capita. Qual? Justifique.

6. Publica um gráfico com os valores do Rendimento pessoal disponível per capita real ajustado (PORDATA) para 11 países, Portugal e 10 contrastantes (5 dos + ricos e 5 dos + pobres). Comenta o gráfico. PREVIEW

A divisão internacional do trabalho

Qual é o objectivo de toda a impressionante azáfama deste Mundo? Qual a finalidade da avareza e da ambição, da busca da riqueza, do poder e da notoriedade?” Quem fez esta pergunta foi Adam Smith (1723-1790) que lhe respondeu na obra A Riqueza das Nações (1776) propondo uma explicação dos mecanismos económicos com recurso à milagrosa metáfora da Mão Invisível.

Nos primórdios da Revolução Industrial, apontou os enormes ganhos de produtividade derivados da especialização e divisão do trabalho. Ficou célebre o exemplo onde descreveu o fabrico especializado numa fábrica de alfinetes, em que “um homem tira o aço, outro estica-o, outro corta-o” etc. Em resultado da divisão do trabalho descrita, 10 pessoas produziam 48.000 alfinetes por dia, enquanto se “todos trabalhassem separadamente, nenhum poderia fazer vinte, talvez mesmo nem um alfinete por dia”. O aumento do nível de produção resultante da especialização permite um aumento do bem-estar dos consumidores pelo simples incremento do comércio interno, isto é, entre os agentes económicos de um determinado país. No entanto, se comércio de alargar a outros países – comércio externo – as vantagens ainda serão maiores.

A divisão internacional do trabalho, isto é a especialização das nações na produção dos bens que produzem mais eficientemente, exportando-os, e assim obtendo divisas para importar os bens que outros países produzem com menores custos. Os recursos (naturais, humanos, financeiros, tecnológicos, culturais, etc.) encontram-se distribuídos diferentemente entre os países, sendo mais competitivos em determinados produtos.
http://www.infopedia.pt/$divisao-internacional-do-trabalho

Contrariando o bom senso, mesmo que um país tenha menores custos que outro em todos os produtos, ambos continuarão a ter vantagem no comércio internacional, desde que cada um se especialize na produção em que tem maiores vantagens comparativas, isto é, menores custos quando comparados os diversos bens. Como a Teoria das Vantagens Comparativas não é tão fácil de compreender quando o resto, será desenvolvida num post autónomo.

  • A nível mundial o século XX divide-se em dois períodos distintos. O período 1914-45 foi caracterizado por uma força destruidora, redução do comércio mundial, isolamento crescente, guerras militares e comerciais frias e quentes, despotismo e depressão. Após a II Grande Guerra Mundial, o mundo tem usufruído de crescente cooperação económica, da ampliação dos laços comerciais e da integração crescente dos mercados financeiros, da expansão da democracia e de um crescimento económico rápido. O contraste nítido entre a primeira e a segunda metade do século XX é um aviso dos elevados objectivos de uma gestão esclarecida das nossas economias, nacional e global. Economicamente, nenhum país é uma ilha em si mesmo. Quando o sino anuncia depressão, ou crise financeira, o som ecoa por todo o mundo.
    Paul Samuelson
A internacionalização da economia abrange quatro grandes tipos de transacções entre agentes económicos de países diferentes:
- movimentos internacionais de bens e serviços (comércio externo);
- movimentos internacionais de factores de produção (investimento directo estrangeiro, migrações internacionais);
- transferências internacionais de rendimento (remessas de emigrantes, repatriamento de lucros, ajuda externa);
- movimentos de activos financeiros que suportam os movimentos de bens, serviços e factores de produção (balança financeira).
http://wps.fep.up.pt/wps/wp146.pdf

Desde o final da II GGM até à crise financeira de 2007-2008 o comércio externo cresceu a um ritmo superior ao da produção, e foi fonte de prosperidade económica no Mundo, particularmente nas economias mais avançadas como os EUA, a Europa Ocidental e o Japão. Estas economias são caracterizadas por uma rede intrincada de comércio entre os indivíduos e os países, que depende de uma ampla especialização e da divisão do trabalho.

A União Económica e Monetária é uma das grandes experiências económicas da história. Nunca antes um grupo tão alargado de países tão poderosos colocou a sua sorte económica num corpo multinacional como o Banco Central Europeu. Nunca antes um banco central tinha sido encarregado de destino macroeconómico de um grande grupo de países com 300 milhões de habitantes que produzem 7 mil milhões de dólares de bens e serviços (Samuelson). Embora os optimistas apontem para os benefícios microeconómicos de um mercado alargado com menores custos de transacção, os pessimistas temem ameaças de estagnação e de desemprego da união monetária devido à falta de flexibilidade dos preços e dos salários e de uma insuficiente mobilidade de trabalhadores entre os países. De 2002 a 2007 o Euro e o BCE funcionaram satisfatoriamente, constituindo a actual crise financeira como o maior teste à sua validade.



1. Distinga comércio externo de comércio interno.

2. Explicite como a especialização e a divisão do trabalho contribuem para as empresas e os países obterem ganhos de produtividade.

3. Explique como o comércio externo contribui para a divisão internacional do trabalho (DIT).

4. Indique os quatro grandes tipos de transacções entre agentes económicos de países diferentes.

5. Refira alguns motivos que expliquem por que razão o comércio externo poderá ser mais vantajoso para as economias mais avançadas.

6. Problematize o futuro da União Económica e Monetária, apresentando pelo menos um argumento optimista e outro pessimista.

7. Identifique os cinco bens (5 de exportações e 5 de importações) e os cinco mercados (5 clientes e 5 fornecedores) mais importantes no comércio externo português, consultando as estatísticas do Comércio Internacional (PORDATA) para 2019. Justifique as ordenações que obteve com os valores observados.



Reflexão sobre o funcionamento dos mecanismos de mercado

Uma forma de compreendemos o que se passa em Portugal consiste em estabelecer analogias com os processos de desenvolvimento verificados noutros países. O vídeo abaixo, apesar da sua linguagem demasiado popular, sugere alguns paralelismos entre a crise em Portugal e em Espanha. Visione o vídeo e reflicta sobre o funcionamento dos mecanismos de mercado (síntese abaixo).



- a liberalização do mercado do solo, que então passou a ser transaccionado sem entraves;

- a argumentação liberal no mercado da habitação: mais terrenos urbanizáveis / um negócio rentável / os investimentos multiplicam-se / constroem-se mais casas / ...e aumentando a oferta de casas baixarão os seus preços, ficando acessíveis aos jovens;

- a argumentação liberal no mercado de trabalho: reduzindo os direitos dos trabalhadores, os empresários contratarão mais funcionários, e assim reduz-se o desemprego;

- lei de Say: a oferta provoca a sua própria procura, e os preços das habitações disparam, mas os salários ficaram congelados;

- o papel da banca no financiamento da economia: os bancos baixaram as exigências para conceder crédito / os salários poderiam ser baixos que casas ficavam hipotecadas, e como se esperava que o seu valor subisse, pagar-se-iam a si mesmas;

- o negócio da banca é o financiamento: para aumentar os seus lucros os bancos alargam o financiamento à generalidade dos bens de consumo (electrodomésticos, automóveis, férias) / com um salário baixo a população vive a ilusão de que é rica à custa do endividamento;


Resumindo:

Não houve criação de riqueza que gerasse crescimento económico.

Simulou-se crescimento para este gerar riquezas, e este desenvolvimento só existia por causa das dívidas.

Este modelo não tinha futuro, porque os preços das moradias tinham subido tanto, que já muitas pessoas tinham sido obrigadas a regressar a cubículos aceitando hipotecas a 40 anos.

Quando em 2008 a banca internacional deixou de comprar a dívida espanhola, mais ninguém poderia emprestar dinheiro. O consumo caiu, as empresas despediram trabalhadores para reduzir os custos, e as famílias sem trabalho foram expulsas das suas casas por falta de cumprimento do contrato (inadimplência).

Descobriram que eram pobres porque nunca tinham efectivamente criado riqueza, mas vivido à sombra de uma dívida.


1. Reflicta sobre o funcionamento dos mecanismos de mercado e transponha para um breve comentário à economia portuguesa os factores explicativos que considerar adequados.

2. Baseando-se no vídeo acima, critique a metáfora da "Mão Invisível".

A Mão Invisível de Adam Smith

Lê o texto de Paul Samuelson (Prémio Nobel de Economia):



Ler em PDF

1. O que entendes por “Mão Invisível”?

2. Sob certas condicionantes restritivas, uma economia concorrencial é eficiente. Explicita o que se entende por uma economia produzir eficientemente.

3. Se a “Mão Invisível” funcionar eficientemente, a intervenção do Estado na economia quase de certeza que é prejudicial. Justifica.

4. Identifica alguns aspectos que limitam o alcance da doutrina da “Mão Invisível”.